terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ARQUEOLOGIA DO SILÊNCIO

As palavras se unem e se multiplicam
ao sabor imprevisível das metáforas
nesta manhã que espalha suas espumas
pela extensão vetusta do alpendre,
onde as sombras virtuais do passado
se transformam em linguagem de saudades
sacudidas pela coreografia dos ventos
que se alastra pelos quartos e corredores
da casa sombria e envelhecida,
enquanto a arqueologia do silêncio,
em sua vertigem abstrata,
redescobre doces instantes de vidas
e lá fora um sol de verão alimenta
de luz e calor um canteiro de margaridas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ESPERA

As horas com seus gomos de silêncio
marcam o tempo de tua ausência.
Sobre a mesa o calendário
na sua frigidez numeral
assinala os dias da espera,
enquanto os faunos da imaginação
flambam os grãos de minha ansiedade.
E quando, amiga, as sete luas passarem
iluminando os hectares da vida,
estarei, aqui, de braços abertos
te esperando no velho alpendre
o mesmo que assistiu tua partida.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

ESTAÇÃO IV

Primavera. Não mais as flores e perfumes
incensando os hectares do dia
e configurando os dominios da primavera,
não mais a abrasividade do sol
esquentando o resto de frio na tarde
de canto e de pássaros,
apenas teus seios túmidos
brotando da camisola de sêda.

ESTAÇÃO III

Outono. Na calmaria da tarde de névoa
decifro a linguagem do signo do dia
na sutileza dos teus olhos claros e serenos
e me reservo a dizer-te, amiga e amor,
dos meus intentos eróticos.
Nas aléias vestígios do outono
com suas sombras algidas e grisalhas
despem as arvores e atapetam
de folhas o chão verde de musgo.
E quando a noite chegar, amiga,
com sua frieza inconsequente,
escondo meus pecados e mergulho
na cálida placidez dos teus braços.

ESTAÇÃO II

Inverno. Na serenidade dos lençóis
minhas mãos em gestos cálidos
tocam e amornam os mamílos
dos teus seios brancos e castos.
Lá fora o inverno congela
os jardins da cidade sufocada
em gás carbônico
e na enseada do teu púbis,
intermitentes, latejam vulcões.

ESTAÇÃO I

Verão. O dia caminha claro.
A tarde avança carregada de sol
pelos labirintos da cidade aberta
e a coreoagrafia do vento
traz agitação ás copas das arvores
na praça deserta.
Quando não estais comigo, amiga ,
o pesadêlo da espera
gera anseios eróticos
no vácuo de minha imaginação

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A COR DO OLHAR

O olhar se perde no vácuo
das horas.
Polimorfos os raios solares
( semi-opácos)
não penetram na cortina
de neblina que embota
de cinzas e névoas
os labirintos da cidade.
Nada de novo
nestes dias frios
e grisalhos,
apenas uma andorinha
em garras tenta inventar
em vão, o verão
no território do inverno.
E no brilho dos teus olhos
vestígios de mar.

sábado, 12 de novembro de 2011

O POEMA

O poema desgarra-se de mim
impávido e resoluto divorcia-se
dos meus intentos vivenciais,
inventa outono no território do verão
acalenta o plácido coito dos amantes
matiza o corpo virgem da manhã
evoca a leveza dos jardins
na contemplação dos tecidos do dia
voeja pelas dimensões do tempo
desce as inclinações do sol
descreve a geografia do silêncio
rompe a solidão do alpendre
e pousa suavemente casto
na arquitetura cálida e sensual
dos teus seios brancos e castiços.
O poema jamais voltará para mim.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

FOTOGRAFIAS

Meus olhos serenos se perdem
na solidão numeral da parede
( caiada e vetusta)
onde postados em fotografias
esmaecidas pela ferrugem do tempo,
meus mortos me olham
com olhares de memória e névoa
e mastigam impávidos
a erva de seus silêncios.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

EM VÉSPERA DE OCASO

( aos meus amigos de Lisboa)

Nesta tarde de chuva e ócio
com minhas mãos pejadas
de polen de flores suicidas
tento segurar o silêncio
numeral da varanda
e no instante em construção
deixo que as horas sejam
apenas metáforas do tempo
e que as folhas das arvores
desenhem a música do vento
no verde de suas essências
e arquitetem ares de outono.
Olhando os grãos da chuva
saturando os velhos telhados
espero na sutileza do alpendre
( enquanto a memória engole
os gomos do passado),
os pássaros afinarem
seus doces e derradeiros flautins
para a celebração do pálido
acontecer de ocaso.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CAIS DO SODRÉ

No último instante da tarde
a cidade abraça-se com o rio
(que ama, devota e quer)
Lisboa tem a cara do Tejo
e o Tejo tem a cara do mar
descendo as ladeiras sombrias
a noite avança impetuosa e fria
sobre o Cais do Sodré.

Lisboa/ setembro/2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

MEMORIAL

A cal despregando-se das paredes
onde silentes se postavam as fotografias
dos mortos. A geografia do relógio
descrevendo os cíclos das horas
na cincunferência do tempo;
da cozinha vinha o cheiro forte
do café de minha mãe ás três da tarde,
o olhar penetrante de meu pai
reagindo as travessuras de meus irmãos
e em sua cadeira de embalo meu avô
( com o olhar fixo num ponto da rua)
debulhava espigas de silêncio.
Ah, que saudades da velha casa
da rua dos Tamarindos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

POEMA DO AMOR REFÉM

Na tarde de sol e canícula
em que a arquitetura do silêncio
constroe seus gomos no ar
deste velho alpendre
tua presença me faz refém
da serenidade do teu olhar
que penetra em mim
como um facho de luz outonal
e meu cativeiro, amiga e amor,
é o litoral dos teus lábios quentes
que encerra mistérios
do amor sublimado que sinto
e minha rota de fuga, amada,
é a calma península do teu corpo
que fica no território livre do teu ventre.


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

PARTIDA

De minha passagem
por aqui
restarão apenas
o meu discurso
sem aridez dos verbos
e a memória do dia
agastada pelo sol
de agosto.

sábado, 6 de agosto de 2011

ALZHEIMER




No silêncio da cadeira
com as mãos cobrindo
o rosto sombrio e enrugado
( imerso no bojo de sua solidão)
um velho monologa
com seu passado.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DIALÉTICA DAS HORAS



Rasgo as trilhas da madrugada
com minhas mãos de musgo,
toldo meu instante com os restos
da escuridão da noite passada
e tento decifrar a caligrafia
deste silêncio numeral
levando nos ombros arqueados
uma lua morta e fria,
e na dialética das horas
o canto do galo despe as sombras
dos latifundios do dia.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

VOYERISMO

para Lou Albergaria

Os olhos descobrem os contornos
simétricos dos corpos suados
na planicie branca dos lençóis,
as mãos feitas navalhas afiadas
cortam o ar do instante lúbrico
quando o silêncio desperta e sai
de seu casulo noturno.
Mesmo distante da vidraça
os olhos prenunciam
cálidos orgasmos.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Á DALI & PICASSO



Os relógios derreteram-se

na paisagem surreal da imaginação.

E o salto do miúra ferido

( riscando com sangue a arena)

foi tão ágil e rude

que impressionou a multidão.

sábado, 9 de julho de 2011

DUAS VARIAÇÕES PARA A AMADA

1.
Eu queria ser uma sombra
para te proteger do sol inclemente
e uma brisa branda e amena
para suavizar teu rosto
nessa tua caminhada ardente
pelas trinhas invias da vida.

2.

Nesta noite de lua acêsa
vou te declamar poemas
para que possas construir
teus castelos de sonhos
ouvindo o mar de Iracema.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

MAIAKOVSKI




Os versos da flauta-vértebra
reverberaram na manhã de inverno
e cortaram a cidade ao meio.
O poema atingiu os suburbios
brancos e gelados de neve
amornando as casas encharcadas
de frio
e tarde esperou a noite
para prolongar o suicídio.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AUTO-RETRATO

Os meus olhos semi-opácos
abrigo de visões e memórias
apontam os contornos do abismo,
no meu rosto de rugas e cansaço
a reencarnação de meu pai
denuncia minha tez morena.
Escorrendo das pálpebras
o sal das lagrimas inundam
meus cilios,
enquanto minhas mãos
em gestos profanos
sacodem o pó das têmporas.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

PAISAGEM DA MEMÓRIA

Eu me lembro bem
havia um alpendre
chamuscado de sol
na casa de minha infância
onde os ventos
outonais varriam
o pó das manhãs.
Havia um sala
larga e imponente
e uma cadeira
de embalo onde meu
pai desfiava seus
projetos de grandeza
aos ouvidos de minha
avó que no silêncio
de seu tricô o ouvia
atenta e paciente,
como eram verdes
os dias na casa
de minha infância.
No útero da cozinha
minha mãe com suas
mãos brancas de candura
orquestrava almoços
e jantares sempre
com um sorriso aflorado
á boca carregada de ternura,
havia também uma lua
maiúscula que iluminava
as historias do meu avô
nas tépidas noites de verão,
ah, como eram cândidos os dias
na casa de minha infância.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A SIMETRIA DO SILÊNCIO



Me arrasto pelos caminhos empoeirados
do mundo. O tempo carrasco implacável da vida
oxida o circuito de minhas vértebras
e eu claudicante tento enfrentar os embargos do cotidiano
como um mareante enfrenta um mar
proceloso e insano,
arraigados em meu peito trago
um sol morto e uma lua naufraga
e os dias são sombrios cinzentos
sujeitos a chuvas e trovoadas
e a simetria deste silêncio
evoca lembranças remotas
cerzidas de saudades
que julguei estarem enforcadas, mortas
no patibulo dos anos.
Tento com as mãos em gestos prontos
apagar a tarde e com minha ansia apressar
a noite
para que suas sombras indefinidas
ocultem os duendes do meu delirio.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

ANGÚSTIA NUMERAL


O silêncio das palavras
cala o ciclo das horas
no labirinto do relógio,
uma angústia numeral
devora os desejos explicitos
em sonhos furtivos.
A linguagem dos signos
tatuam a pele dos dias
e nas paredes do alpendre
os olhos,
perscrutam o limo do tempo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

A MEDIDA DO SILÊNCIO

O poema escala as escarpas da tarde,
o sol penetrando na lavoura da cidade
semeia gerânios e anturios
ciranda de ventos outonais brincam
de desfolhar as árvores do bosque
e o silêncio em sua medida de tempo
percorre as trilhas das horas
entorpecidas pelo calor
enquanto os dias implacáveis
esculpem rugas nas latitudes
do meu rosto.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

FRAGMENTO



Depois que o sol

se perdeu no mar,

restaram apenas sombras

na cal das paredes

e o silêncio da casa

ruminando

o sal da memória.

terça-feira, 7 de junho de 2011

CANÇONETA DO DIA ( para Nydia Bonetti)






Sob o silêncio
do alpendre
as horas estatizam
o tempo.
O dia avança
sobre as latitudes
da casa
enquanto o flautim
dos pássaros
antecede a chuva.

sábado, 4 de junho de 2011

FRAGMENTOS DO CAOS




Penetro na extensão do caos
abro os braços para a noite voraz
não me engolir. O tempo inocula
nas veias da cidade ofegante
um vírus desatinado
e contamina ruas e avenidas
de delírio medo e angustia.
Saindo da vagina da noite
as horas escorrem pelas calçadas
onde os mutilados sociais
tentam enganar o sono.
Sob as sombras das marquises
soletro a linguagem do desengano
nos rostos palidos e encardidos
desses meninos e meninas
( fragamenos do caos)
indigentes dos vicios e do abandono.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

POEMA

A amanhã escorre pelas maçãs
do teu rosto e o último vento
de primavera arrisca beijar
teus cílios sob um sol morno
que ainda alimenta os jardins
da cidade. Súbita chega a tarde
com seu complexo de noite
e traz os pássaros em último
vôo vesperal sobre as copas
das árvores que se agitam
com os ventos molhados.
E lentamente a noite vem chegando
com sua genitália de sombras
e seu sudário de nevoa e agonia
e ao longe para os lados do Boulevar
o toque de um oboé
parece suavizar os estertores do dia.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

EM CARNE VIVA

O governo engole
os impostos
como um monstro
Leviatã,
os políticos de dentes
de ratos afiados
devoram as emendas
do orçamento
e não há profilaxia
contra a corrupção
nos subúrbios
do poder.
II
O capital enfia
suas garras na carne
do proletário
( decisivo e sem dó)
e em carne viva
ele ver seu salário
desabar nas gôndolas
dos supermercados
da vida,
enquanto nas periférias
sujas e encardidas
os párias da fálida
democracial social
catam nos lixões
restos de comidas
se lambuzando
na merda dos burguêses
do pais do carnaval.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

VIVRE DANS LA CHAIR



Les hirondelles du gouvernement

taxes

comme un monstre

Léviathan

politiciens de dents

rats dévorent forte

coutures

budget

pas de prophylaxie

la corruption

dans les banlieues

pouvoir.

Les discussions de la capitale

griffes dans la chair

prolétarien

( sans pitié et de compassion)

et des matiéres brutes

il voit son salaire

l effondrement des étagères

supermarchés

la vie,

tandis que dans les périphéries

sale et crasseux,

les exclus de la faillite

la social-democratie

récupération dans les décharges

restes

si bavures

de la merde dans bourgeois

carnaval du pays.

sábado, 21 de maio de 2011

POEMA



As sombras se aglomeram
sobre a extensão do alpendre
um vento sibilante, em acoite,
levanta a poeira dos anos
acumulada no quintal da casa
súbito o relógio das horas
capta em seu sonar de tempo
vestigios da noite.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A CASA




Da velha casa de minha infância

restaram apenas sombras

do passado impregnadas nas paredes

encardidas e sem caiação,

corredores carcomidos pelos cupins

do tempo

e o velho alpendre onde silente

uma legião de mortos se posta

e mastiga a erva de sua solidão.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

OS PINCÉIS DE MONET




Um sol denso e morno penetra

ás fímbrias da tarde de outono,

rosas refulgentes desabam

sobre a superficie do lago

após a chuva e como espadas

(esgrimindo )

os pincéis de Monet traçam

os enigmas do silêncio.



quarta-feira, 4 de maio de 2011

GÉNESIS



Esse dilema existêncial

me aflige e me inerva

não sei sou filho do barro

ou filho do esperma.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

CAVALGADA




Cavalgo teu corpo sensual e ameno
pelas latitudes da excitação desmedida.
Saindo dos teus olhos serenos
vejo um misto de brilho e ternura
a contaminar de cio o instante lúbrico,
iluminado pela luz tenue do quarto
teus seios brancos túmidos e castos
captam meu olhar agudo e excitado
enquanto minhas mãos naves
imaginárias e em gestos delicados,
circudam a orbita dos teus mamilos,
e nestes instantes, doce amada,
pressinto profundas mutações
na arquitetura do tempo
eu sinto isso todas as noites
em que habito o vertice de tuas coxas.

sábado, 9 de abril de 2011

POEMARIA



Na tarde de musgo

enxaguo velhas

miragens

coladas nas retinas

dos meus olhos

inquietos,

retiro o silencio

do quarto onde avalio

e enterro meus pecados,

e lá fora o sol de outono

fertiliza gerânios

e cresta as sombras

de tua ausência, Maria.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

DEGRAUS DO SILÊNCIO


Desço sereno os degraus do silêncio
e me refugio nas sombras do alpendre,
no alto uma lua madura pasta silente
num céu bordado de estrelas.
Na solidão das horas a arqueologia do tempo
desenterra do solo de minhas memórias
antigas miragens presas a um tempo vivido
e no instante de sonho vejo as mãos cálidas
de minha mãe acariciando o ar dos meus cabelos
ouço a voz plena de ternura de meu pai
na oração contrita antes de dormir.
Subo tenso aos degraus do silêncio
( momento de angustia e melancolia)
quando a noite lesta e calada
com seu inventário de nevoa e delírio
invade decisiva os hectares da madrugada
em busca dos clarões do dia.
( foto de Jorge Siqueira)

segunda-feira, 7 de março de 2011

CAMINHAR


Caminho meus pés
pelas trilhas da madrugada
insones meus olhos
fogem dos sonhos,
no parque as árvores
bebem o orvalho
da manhã
e se perfilam
para receber
o sol,
nas ruas
há tanta gente
sem sorrisos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CANÇONETA


( para Crystal, minha neta)

Desejo, neta querida,
que as tuas manhãs
nas planicies e cumeadas
do mundo
sejam prenhe de ternura
cânticos e pássaros,
que o sol com fiapos
de luz e calor
amorne teu corpo
no rigor dos invernos
que irás palmilhar
e que a vida te ofereça
todos os dias
amor e sabedoria
na viçosa lavoura
dos teus sonhos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O CÃO DO MEU VIZINHO


O cão do meu vizinho latiu
a noite toda e seu latido
em dó maior ecoava
pelo útero da casa
não me deixando dormir.
Fui á internet e li
um poema de Carmem Pressoto
e dois de Nydia Bonetti
mas a insônia não me deu
trégua,
quando amanheceu
abri a janela e vi
(extasiado)
o sol rompendo
o hímen da manhã
numa explosão
de vida e encanto
cobrindo de cores e luzes
o céu pleno de verão.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

POEMA DE LA TERCERA VEZ

Antes de que llegue la noche
y rellenar las sombras
estas calles y callejones
antes del apocalipsis
horas suceder
y llenar esa soledad habitación
vomito, mi amiga, mi pasión
por ti,
con caricias y gestos listo
y el orgamisco instantánea
en los que las inundaciones
su universo del pubis
savia esperma
llenar los oídos
con palabras obscenas,
blasfemias, erotismo
y antes de que termine la noche
reiterar el amor que siento
besar tus muslos color de rosa
y lamer su sexo
como un lobo hambriento.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

INDÍCIO DE OCASO


As sombras da tarde
envolvem o meu silêncio,
o tempo rateia com as horas
a solidão do relógio
na calmaria do mar
um pássaro de bico
adunco em vôo rasante
fere a pele das ondas
e os meus olhos ávidos
de paisagem
se perdem na policromia
do horizonte.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

TOCATA MATINAL EM SI BEMOL



Sigo as trilhas desta manhã
tecendo costuras de sol.
O vento abre suas asas
imaginárias e varre minha
sombra nas calçadas,
uma nuvem em chuvísco
molha minhas palavras
e fico calado observando
o sudário de angústias
das ruas ínvias da cidade
em pânico.
Nas praças onde os velhos
descansam e mastigam
as ervas de suas idades
a arquitetura do silêncio
ergue castelos de memórias
e sono
e no arvoredo desfolhado
a canção dos pássaros, em coro,
celebra a inauguração do outono.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

DE MIM

O melhor de mim
ficou nos degraus
da infância
na idade adulta
os empecilhos
frustraram
meus planos
sobraram
residuos
de uma
canção
de ninar
e o tempo
enrugando
minha pele.

sábado, 22 de janeiro de 2011

CINCO EXERCÍCIOS PARA MEDITAÇÃO

I

É proibido chorar
no muro
das lamentações.

II

O tempo
corre pelo
corpo
e mata
os cabelos.
III

Ter ou ter
eis a razão
do poder.

IV

O espelho
xerocopia
as rugas
e desnuda
a idade.

V

A palavra
é fogo
é chama
arde
queima
inflama.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

CRÔNICA POÉTICA DA CASA RESTAURADA

A casa já não mais reflete
as peripécias do passado
inovaram suas estruturas físicas
trocaram seus caibros de cedro
por frias vigas de cimento armado,
invadiram a arquitetura dos quartos
e expulsaram os fantasmas da infância
que povoavam os velhos armários,
foram além: ladrilharam os corredores
e arrancaram-lhe o alpendre
que em noites de verão as estrelas
debutavam sob o fascinio do luar
e não respeitaram sua história,
deixaram apenas, incolume,
o velho quintal, em árvores,
como resposta a minha ânsia
de memória.

domingo, 16 de janeiro de 2011

SILENCIAL


Uma chuva copiosa
tenta lavar em vão
os meus pecados,
a noite com seu
repertório de sombras
invade os hectares
da cidade,
parida do silêncio
a insônia me convida
ao alpendre
e na parede caiada
da velha casa
o tempo brune o relógio
e o pó das horas embota
os labirintos da memória.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

NOTURNO

Do alpendre vejo o cais
assisto navios em fuga
e a tarde desabar sobre
o rio,
vejo a noite chegar e abrir
seus latifundios de mistério
para a passagem das sombras
uma lua em pedaço
tenta iluminar a solidão
da rua
e um rebanho de nuvens
pasta tranquilo num céu
claro de agosto,
o vento abre suas asas
noturnas e inquieta
o arvoredo varrendo
o silêncio da praça.

sábado, 8 de janeiro de 2011

VISITA AO CAMPO SANTO

Caminho pelas alamedas solitárias
do campo santo de Manaus
ao reencontro dos meus mortos,
lápides, arvores e um céu cinzento
compõe a arquitetura de solidão
enquanto as sombras dos ciprestes
perenizam o silêncio.

EROTICA

Entre as tuas tenras coxas a erva da sedução narcotiza meus gestos abala meus sentidos e minhas mãos se perdem no labirinto terno e obscuro ...