segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

OCASO EM BELÉM

O pássaro pousa suave
num vinco da tarde,
o sol derrama seus poentes
sobre os telhados dos antigos
casarios
lá para os lados do Ver-o-peso
o rio castiga e lambe a ribeira
enquanto a cálida Belém.
vibra e respira a clorofila
de suas decanas mangueiras

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

CONTRARIANDO MANUEL BANDEIRA

.
Vou embora para Pasárgada,
mesmo não sendo amigo do rei.
Lá não precisarei de namorada,
pois levo daqui minha amada
que cheira a jasmim
e tem nos cabelos a rosa de verão.
Levarei comigo os adubos de minha alma
para ao lado de um campo de margaridas,
construir e fertilizar uma lavoura onde
semearei auroras e colherei sonhos.

domingo, 13 de novembro de 2016

PEQUENA PROSA POÉTICA DE PARTIDA


Quando partiste numa tarde grisalha de outono, levaste contigo tua pele onde, em noites de luas e estrelas, o meu silêncio pastava livremente. Na memória levaste a caligrafia de minhas mãos na superfície cálida e túmida dos teus seios e um breve poema tatuado na planície de tuas coxas. Guardo ainda, no meu coração, entre sístoles e diástoles, as cavalgadas que empreendemos pelas noites de amor tórrido sem restrições e pecados. Tudo isso levaste. E deixaste finalmente, em mim. um coração sangrando.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

CRÔNICA

Quando meu pai me disse, filho, vamos para capital, senti um vazio intenso percorrer as latitudes do meu corpo e penetrar no intimo de minha alma de menino. E ele foi mais taxativo, daqui a três dias. Eu iria deixar para trás todas as minhas referencias de vida. Sentei à beira do rio e revi seus magníficos rebojos, seus remansos, o vigor de sua correnteza indômita. No seu dorso aprendi a nadar e me extasiar com o salto de seus cardumes mostrando suas escamas para o sol, na época da piracema. Com água tirada de sua torrente fui batizado um dia. Olhei o vale, aquele pedaço de mundo verde e encantador da minha Amazônia, logo iria desaparecer de minha visão. Passei horas pisando na lama cinzenta da várzea, sentido seus ciclos e suas estações de onde tirávamos o alimento de nossas vidas, despedido-me de seu humus. Entrei na floresta e cânticos de pássaros me saudaram como se soubessem de minha partida. Eles que todas as manhãs me acordavam como sentinelas do sol. Do fundo da mata veio a sonata dos riachos e das cascatas e do brejo a sinfonia dodecafônica dos sapos atravessou meus ouvidos E num domingo de manhã, deixei o lugar onde nasci. E quando entrei no navio meu rosto já estava banhado em lagrimas e a saudade apertou-me o peito. Nunca mais voltei ao meu lugar

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

CANÇÃO PARA CAMINHADA


A chuva molha minha fantasia de pássaro
mas não consegue molhar meu canto,
estou órfão de verão e os ventos minerais
foram embora
partiram e não se despediram da aurora,
meus olhos debulham paisagens
perdidas ao longo desses caminhos
saturados de cardos e urzes
e os meus pés calçados com essas
botas de tempo estão cansados de distancias
mesmo assim tenho que continuar a aventura
por essas sendas esperando o acontecer de vácuos.
A vida me mostra as insidias do tempo
e não sei o que me espera no fim deste percurso
e se cansar de vez, evocarei o espirito de Kerouak
para me acompanhar na jornada. Enquanto não avisto
fim dos meus passos
a chuva continua a molhar minhas asas
minha fantasia de pássaro
mas não consegue molhar o meu canto.

( para o poeta Sandro Nine, meu filho).

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

PAISAGEM DO INSTANTE ( II )


O sol capinava sombras
na extensão das marquises
onde mendigos mascavam
a erva de suas misérias,
no pendulo do relógio o tempo
coava as horas e multiplicava
o calendário das idades,
nos alagados da ribeira o rio
apressado, mostrava seus cardumes
na crina das ondas.
No alto um bando de andorinhas
migrantes, em voos acrobáticos,
riscavam a pele do vento
e nas solas do horizonte
um pássaro solitário perseguia
implacável um arco- iris
e a tarde urinava nos jardins.
A chuva veio na lamina dos relâmpagos
e trouxe a noite, esta com suas litanias
de sombras e langor,
e toda a paisagem do dia
do meu olhar se apagou.

sábado, 30 de janeiro de 2016

EMBATE

Se a noite vier furiosa
calejada de escuridão
e preencher de sombras
ás ruas,
eu saberei me defender
com minha espada de lua.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

MINÍMA CANTIGA

Os meus olhos de fogo
acendem a tua nudez
no instante que as limas
do,tempo
desbastam as rusgas
do meu silêncio
enquanto o teu corpo
em chamas
flamba os grãos
do meu desejo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O POETA VOLTA À LISBOA


A cidade é a mesma dos anos passados
feminina , romântica e bela
casas com flores desabrochando nas janelas
e a velha Alfama desfiando seus fados,
na ribeira o Tejo insuflado pela maré
avoluma suas águas e acoita o Cais do Sodré.
Perfurando a paisagem a Ponte 25 de Abril
Cujo nome relembra batalhas furiosas e febris
pontifica solene sobre as costelas do rio
e a efervescência do Bairro Alto convida a boemia
que sobe e desce as ladeiras cheias de poesia.
No largo do Chiado o poeta Fernando Pessoa
se exibe, em pose, para as fotografias
de turistas e seus devotos
que o querem registrados na memória de suas fotos
enquanto da praça Camões o discípulo vigia.
No Rossio e em sua avenida principal
os ventos sopram a liberdade
e de seu pedestal no meio da praça o Marques
vigia a cidade,
e no fim da tarde no Café Nicola ,cadeira na calçada,
assisto o ocaso na hora em que o sol esmorece
e neste instante Lisboa contempla em prece
os braços abertos do Cristo de Almada.

(Lisboa/ julho/2014)

sábado, 9 de janeiro de 2016

A CASA DO PASSADO

Entro na casa do passado
observo as paredes com a cal
despregando-se e carcomidas
pelos cupins do tempo,
olho os quartos úmidos
caminho pela via expressa
da casa: o corredor sombrio
tudo está diferente dos dias
da infância. Vou ao quintal
universo de meus voos
imaginários e o vejo abandonado
olho o jardim das dálias de minha mãe
tudo em ruínas onde um gato
de pêlo grisalho mija nas minhas
recordações,
enquanto com uma sinfonia
muda o tempo constrói
a arquitetura do meu silêncio.

SUAVE ROTINA

Me acostumei a caminhar a beira-mar
nas manhãs em principio.
Olho o oceano à bramir e colho suas brisas
e as aspiro nas suas essências de iodo e sal,
o sol me rebatiza de cálcio e ouço a canção do mar
na solidão cônica dos seus búzios
piso nas granulações deste mar de areias: a praia
e sinto os meus pés abrasivos alcançarem distancias
e a manhã termina na coreografia ágil das gaivotas
bicando em lestas acrobacias a pele das águas.
A tarde me refugio na janela do apartamento
observo embevecido o cavalgar das nuvens
nas frinchas do céu e neste instante
me visto de por do sol e espero a noite chegar
com seu véu de sombras e mistérios.

MÍNIMO DEBULHO DA POESIA DE RUBENS JARDIM

Sem arte e sem manha o sol
pousa no silêncio dos telhados
incrustados de musgo e liquens
das velhas e frias casas. Das frínchas
das avenidas e das ruas desta cidade
de cal e pedras fluem os cantares da paixão,
saindo do sonho noturno do poeta
surge Anarda mulher uma viagem
ao desconhecido trazendo no rosto
venusto sinais líricos de poesia,
enquanto na plataforma de uma estrela
o poeta Lindolf Bell espia.

O CONSTRUTOR DE SOL

Um homem pensou em construir um sol. Ele confidenciou a um amigo. Assustado o amigo falou:- Construir um sol? Que dislate é esse meu amigo. Ninguém constrói sol. Jamais Deus o criador do mundo e do sol foi imitado. O único instrumento que tinha relação com o sol e que as astrofísica criou foi um enorme espelho para refletir a luz solar, servindo como arma de defesa, mas só isso. Agora você vem com essa ideia. Então o pretenso construtor de sol falou: -Meu amigo, você sabe que sou poeta e poeta pode tudo. Poeta cria verão em pleno o inverno, transforma a primavera em outono, colhe uvas fora da estação, cria amores que nunca conheceu e outras coisas mais. Tens matéria prima para essa realização, indagou o amigo já quase chegando a pilhéria. E o poeta inventor respondeu:- Por enquanto tenho em vista apenas duas matérias primas. Penso em construir os raios com o brilho dos olhos da mulher amada e o calor com o fulgor de mil mãos de mães na hora de acalentar seus filhos. Mais tarde pensarei em outras matérias.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

POEMA



MOMENTO NOTURNO

A noite fermenta o tédio na palha
das horas. Caminho à esmo pelas ruas
pejadas de escuro e solidão,
a lua hoje não veio para espantar
os fantasmas dos becos soturnos
partes da cidade banhadas em impurezas
sociais. No alto nuvens sépias prenunciam
chuvas e soletro a linguagem da vida
na cartilha do tempo.


EROTICA

Entre as tuas tenras coxas a erva da sedução narcotiza meus gestos abala meus sentidos e minhas mãos se perdem no labirinto terno e obscuro ...