segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O NATAL E MINHA MÃE

 O NATAL E MINHA MÃE

Não gosto do Natal. Ele me traz recordações muito doloridas. Antes eu gostava. O mês de dezembro para mim era esperado com ansiedade.
Meu pai na ceia reunia toda a família para orar e comer o peru que minha mãe fazia cuja receita fora dada por minha avó. Hoje não, se puder passar o Natal viajando tanto melhor. Sinto saudades dos natais passados
.E os meus personagens que compunham minha vida, muitos foram tragados pela Grande Luz. Chegaram nesse mundo a bordo da nave-útero e regressaram na nave-pó.
Papai e mamãe já se foram deste plano, subiram a rampa do arco-íris e circundam outras órbitas. Por isso, para mim, o natal já não traduz a beleza, paz e a serenidade de outras épocas .
Lembro-me de minha mãe, da brancura de seu rosto angelical, do sorriso monalistico , e, principalmente, lembro-me de suas mãos.Eram cálidas suas mãos que quando um de nós sentia dores, bastava o afago daquelas mãos santa para dor sumir.
As mãos de minha mãe eram divinas, mágicas. Nunca a vi desesperar com a vida embora muitas das vezes a família passava necessidades que pessoas de classe pobre, comumente passa.
Era uma mulher estoica, forte, decidida, como toda mãe, capaz de doar a própria vida em troca da existência dos filhos.
Nunca a vi discutir com meu pai. Meu tio Val, irmão dela, me disse um dia que na juventude ela gostava de festas e não perdia um baile na cidade aonde morava.
Segundo meu tio, minha mãe dançava muito bem e ninguém do lugar chegava a fazer melhor. Mesmo depois de casada meu pai a levava aos bailes nos clubes da cidadezinha.
Mesmo quando atingiu a faixa etária que os hipócritas chamam de a melhor idade, ela gostava de assistir no, sereno, as festas carnavalescas nos bailes infantis dos clubes do Boulevard Amazonas, avenida que habitamos por longo tempo, após a nossa chegada do interior.
Numa tarde gris de junho o grande vilão da era moderna, o câncer, a levou, apartando de nós a ultima ligação umbilical que tínhamos na vida com aquela mulher maravilha que nos guiou pelas sendas árduas e perigosas da vida. Por isso o Natal já não reflete mais a sonância poética dos natais pretéritos, os natais de minha família, de minha mãe.







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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

DIVAGAÇÕES SOBRE UM DIA DE ÓCIO

 

Hoje não vou sair para caminhar por essas ruas sonâmbulas, caiadas de sol neste ardente verão tropical. Não irei os jardins de Burle Max em busca de me inebriar com a geometria de uma coruscante bromélia. E nem irei à praia para assistir os martírios do sol poente sobre esse mar de águas verdes e naufragas. Basta-me essa varanda de tempo que me dar o sossego de poder declamar, a peito aberto, um poema arrebatador de Diego Mendes Sousa, o poeta da Parnaíba. Desta janela, pátria dos meus olhos, vejo os canteiros do jardim de Jude esperando que, a qualquer instante, um botão saia de seu casulo de silêncio e desabroche em flor na paisagem dos meus olhos. Há um cheiro de crepúsculo no ar da tarde. Estou só, aproveitando esse meu ócio voluntário. Jude não está em casa. Ela foi faiscar, antes que a tarde faleça, fagulhas de sol para alimentar a noite dos vagalumes. As Walquirias do ocaso já chegaram para conduzir a tarde pelos caminhos do imponderável. Neste prenuncio de noite quero está silente e calmo, ociosamente calmo. Diria até que quero está inútil. Sem fazer nada. Inútil como um parlamentar, mas somente hoje, agora. Amanhã não.

EROTICA

Entre as tuas tenras coxas a erva da sedução narcotiza meus gestos abala meus sentidos e minhas mãos se perdem no labirinto terno e obscuro ...