quinta-feira, 30 de abril de 2009

GOMOS DA MEMÓRIA

Inda me lembro dos dias da infância
retidos nos desvãos da memória,
no alpendre da casa
gasta de sóis e chuvas,
um velho de cabeça branca
e olhar aquilino, meu avô,
contava história de fadas
sacis e duendes e a criançada
o ouvia absorta,
lá fora uma lua maiúscula
pintava de prata
o pomar de minha vó.
No quarto em silêncio
minha mãe orava a Deus
pela volta de meu pai
que estava em viagem,
num canto, na penumbra,
tia Ema e seu namorado
(entre excitação e ulos abafados)
lascivos celebravam Eros
expondo seus arroubos e pecados
em cima do velho tapete da sala.

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