domingo, 29 de março de 2015

INVENTÁRIO DE ABISMOS


Hoje não construirei o poema prometido
não poetizarei os delírios e os desencontros das ruas
pejadas de homens sem rostos ...
cada qual carregando sua cruz, sua sina.
e não sairei a colher cintílos de lua
pelos labirintos urbanos dessa cidade feminina.
Hoje não fabricarei o poema na casa dos sonhos
e deixarei que gotas de orvalho inundem
esses jardins de outono para que o dia renasça
lavado e perfumado no vértice do tempo .
E por fim, deixarei de olhar o por do sol em agonia
nas horas febris, nos estertores da tarde.
Hoje não construirei o poema prometido,
deixarei que a vida passe por mim lerda ou célere
com todo o seu conteúdo de realismo.
Hoje não haverá poema na casa dos sonhos.
Ficarei em casa. E quando a noite intensa habitar a varanda
aproveitarei o silencio das horas
para inventariar os meus abismos.

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