terça-feira, 8 de novembro de 2016

CRÔNICA

Quando meu pai me disse, filho, vamos para capital, senti um vazio intenso percorrer as latitudes do meu corpo e penetrar no intimo de minha alma de menino. E ele foi mais taxativo, daqui a três dias. Eu iria deixar para trás todas as minhas referencias de vida. Sentei à beira do rio e revi seus magníficos rebojos, seus remansos, o vigor de sua correnteza indômita. No seu dorso aprendi a nadar e me extasiar com o salto de seus cardumes mostrando suas escamas para o sol, na época da piracema. Com água tirada de sua torrente fui batizado um dia. Olhei o vale, aquele pedaço de mundo verde e encantador da minha Amazônia, logo iria desaparecer de minha visão. Passei horas pisando na lama cinzenta da várzea, sentido seus ciclos e suas estações de onde tirávamos o alimento de nossas vidas, despedido-me de seu humus. Entrei na floresta e cânticos de pássaros me saudaram como se soubessem de minha partida. Eles que todas as manhãs me acordavam como sentinelas do sol. Do fundo da mata veio a sonata dos riachos e das cascatas e do brejo a sinfonia dodecafônica dos sapos atravessou meus ouvidos E num domingo de manhã, deixei o lugar onde nasci. E quando entrei no navio meu rosto já estava banhado em lagrimas e a saudade apertou-me o peito. Nunca mais voltei ao meu lugar

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