A menina de minha infância
tinha os olhos claros de mar
e o sorriso abria-se como botão
de rosa sob o sol de março.
Quando era primavera eu
e a menina de minha infância
corríamos pelos campos
colhendo flores silvestres
para ornar o altar da igreja
do Rosário nas festas do divino,
aos domingos banhavamos
nas águas do corrégo Mindu
e fazíamos juras infantís
á sombra dos tamarindos.
Um dia tive que deixar minha
cidade e fui me despedir
da menina de minha infância
e a encontrei regando o jardim
da igreja do Rosário
olhei seus olhos e ela me olhou
e vi uma nesga de lagrima
descer do seu rosto de boneca.
Passei anos andando pelas
arestas estafantes do tempo
e um dia regressei a minha cidade,
coincidência ou não março
engravidava roseiras
e a sombra do outono apascentava
a sesta dos pássaros nos bosques
saturados de flores,
e reencontrei a menina
de minha infância
agora adulta e mais bonita
com seu vestido simples de chita
e a luz dos nossos olhos se fundiram
e ficamos ali (em pé )parados
acorrentados em silêncio
e ví que era a mesma figura
de minha infância com os mesmos
olhos, o mesmo sorriso
a mesma trança no cabelo
os mesmos lábios sedosos
a mesma fé
e menina de minha infância
hoje é minha mulher.