Todos os trabalhos postados neste blog são de autoria de Julio Rodrigues Correia e estão albergados pelos termos da Lei nº 9.610 de 19/02/1998 que regula o Direito Autoral no país.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
FRASE
Cecília Meirelles, poeta.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
POEMA
emprenha a tessitura dos dias
e os anos (vermes vorazes)
devoram a cada instante
a minha arquitetura óssea
meu corpo se decompõe
e me afundo num mar
de desencantos e depressões
sobram de tudo isso
a memória de um tempo distante
(pégadas nas areias da infância)
onde a felicidade me sorria
com seus lábios de nuvens
e dentes de sol
e esse caminhar alquebrado
pelas perdas solidão e mágoas
restaram também as palavras
com que construo poemas
que alimentam minha alma
no descompasso dessa jornada
pelas arestas sombrias do mundo.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
TRENO PARA O FIM DO INVERNO
(nos cernes das palavras
soltas no ar dos meus
cabelos)
há pássaros na substância
verbal de Cintia Thome
há pássaros na arquitetura
poética de Nydia Bonetti
há pássaros na sutileza
do canto de Doroni Hilgenberg
e há pássaros nas locubrações
existencialistas de Benny Franklin.
Quando o inverno se for
e as manhãs gestarem
os embriões do silêncio
o sol cobrir de ouro
os jardins da cidade
esses pássaros sairão de nós
cândidos e tangendo liras
de sonhos para um concerto
de canto amor e louvor
celebrando a inauguração
da primavera.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
A POESIA SUBIU O MORRO
e nenhum tiro disparado
a poesia caminhou vielas
sinuosas e poluidas
visitou barracos encardidos
pela nefasta pobreza
a poesia viu a miséria
brotar das valas/esgôtos
(a céu aberto)
e a tristeza nos rostos
esquálidos
de homens e mulheres.
a poesia ouviu negros
brancos e mulatos
a poesia não discrimina
a poesia não tem cor,
uma multidão veio ouvir
a poesia falar
as verdades da vida
a poesia levou a todos
paz amor e força.
a poesia desceu o morro
e nenhum tiro disparado
e quando saiu do morro
a poesia deixou atrás de si
uma lua ecumênica
e um rebanho de estrelas
iluminando a favela.
ODE MINÍMA II
que reparto com sonhos
e fantasias,
o olhar perdido no teto
branco
recicla palavras amorfas
derramadas sobre as faces
dos amantes em coito
no cio do instante lúbrico,
e em rompante desfia
as fibras do silêncio
e penetra na geometria
dos sentidos.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
NOTURNO ( para Benny Franklin)
e escancaro seus ludibrios
as ruas despetaladas
(são flores de angústia e medo)
somam seus desastres cotidianos,
nas casas encharcadas de tempo
as laminas das cortinas fechadas
escondem cópulas devassas
numa esquina obscura
um bêbado solitário apoiado
num fusca azul-fôsco
(expulsando o fígado pela bôca)
segura em uma das mãos
uma lua madura
depois sorri para um poste
enquanto a noite segue
sua rota de dúvidas e mistérios
pelo território da madrugada,
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
II POEMA Á AMADA
no cais da tarde
e nos teus olhos
de mar
há vestígios claros
de silêncio
orbitando as palpebras
no instante estático
e mesmo sem escafandro
amiga e amor,
mergulharei no plácido oceano
dos teus lábios.
domingo, 6 de dezembro de 2009
UM POEMA DE NYDIA BONETTI
caminha sobre o muro, esquecido das asas
e pia
embora saiba todos os mistérios do canto
eu sou
o pássaro cinzento sobre este muro branco
( este poema me foi dedicado pela poeta)
sábado, 5 de dezembro de 2009
POEMA PARA AMADA
teu sorriso sereno e aberto
no ar morno da tarde
tecem as teias do meu silêncio
e a combustão dos teus olhos
acende as labaredas
dos meus pecados.
CARDÁPIO AMAZÔNICO
na folha da bananeira
pimenta murupi
no molho de tomate
e um pirão de farinha
do Uarini.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
HERANÇA
pelo mais vil materialísmo
pelas ações dos espíritos
corrompidos,
restaram apenas em mim
( como herança lavrada)
a lucidêz dos poetas universais
as verdades vinda de Deus
e a serenidade dos olhos claros
da mulher amada.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
CANÇONETA PARA FLAUTA TRANSVERSAL
na linha do horizonte
uma solitária jangada
persegue a crista das ondas
como se quisesse arar
os latifúndios do mar.
Num céu de nuvens gris
gaivotas em vôos pandos
bicam a superficie das águas
( em beijos lestos)
como despedida da tarde
que placidamente agoniza,
enquanto para os lados
do Meirelles
os últimos raios de sol
tingem de ouro maduro
a enseada do Mucuripe.
sábado, 28 de novembro de 2009
FÁBULA
e profanos pintam
os cílios do arco-iris
uma estrela caída
em plena avenida
tenta em vão
acender seu lume
com centelhas
de sol.
Na gleba da tarde
faunos infames
decretam nos jardins
da cidade
a morte de rosas.
POEMA
no tecido da manhã
um sol tépido
amornando a estrada
recruta pássaros
para concerto matinal
enquanto num céu
pintado de azul
o balé das gaivotas
impressiona o outono.
JANGADAS
sulcando imponentes
o mar do Mucuripe
são cisnes castos
cortejando ondas
bicando marés,
velas soltas
no ar de maresia
esperança de peixe
no olhar queimado
de sol do jangadeiro.
Jangadas do Mucuripe
saturadas de sol e sal
levem para alto-mar
as brisas do meu pranto.
O TREM
Da janela do apartamento
onde moro em Fortaleza
todos os dias vejo o trem
indo e vindo levando
passageiros para Caucaia
apintando frenético
ao longo da via férrea
e todos os dias
o trem constroe
meu desejo de partir.
LEMBRANÇA
uma flauta de tempo
(tocada por um pássaro)
despertava o sono
de minha vó,
no quintal o ardor
do sol de agosto
crestava as folhas
das couves-flor
da horta do meu avô
na varanda sorrisos
de crianças alegravam
o verão.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
FUGA PARA FLAUTA DOCE
perfura o ócio do silêncio
e a noite descobre
seus encantos
no litoral dos teus lábios,
e antes que chegue a madrugada
com suas falésias de frio e orvalho
quero deixar tatuados
na paisagem morena
do teu corpo vestígios
das minhas mãos
( misto de gestos e crença),
apascentando insone
na penumbra da alcova sedosa,
tua presença.
NO METRÔ DE MADRID
um gitano empunhando
uma guitarra flamenca
cantou uma canção
andaluza que falava
do amor pela terra
depois pediu aos presentes
a recompensa pela canção
dei-lhe três euros
e olhei seus olhos,
seu olhar era de tristeza
e padecimentos.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
LÚBRICA
cálida e explicita
sobre a brancura
desses lençóis
macios e líneos
( cheirando a flores
silvestres)
incita os sentidos
e corteja orgásmos.
(A Neusa Doretto, poeta da melhor cêpa)
domingo, 15 de novembro de 2009
EPITÁFIO PARA UM POETA
as vestes mortais
daquele que em vida
nunca acreditou na
vida.
ODE PARA DOUGA, A AMADA
me acolhe quando o frio
tenta congelar meus ossos
e anuviar meus olhos
e as tuas mãos tépidas
( forja de meiguice e calor)
se prestam a aquecer
meu rosto gélido
e as palavras mudas
que caem dos teus lábios
desvendam os segrêdos
dos subterrâneos do teu amor.
sábado, 14 de novembro de 2009
LEGADO
sobraram apenas em mim
restos de magoas sazonadas
estafa irremediável do corpo
cabelos inaugurados de inverno
trilhas de desencontros
e o môfo dos porões
da casa onde nasci.
Na varanda da memória
restou indelévelmente
a velha flauta do meu avô
que tirava do pó do tempo
a nota exata da canção
que nos embalava
nas noites de verão.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
MINÍMO NOTURNO PARA A CASA
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
NOTURNO PARA OBOÉ
ressuscitam o pêndulo
do relógio,
as horas tépidas
se arrastam
como reptéis
pela circunferência
do tempo
ao longe um toque
de um oboé
põe em fuga
valsas e sonatas,
lá fora as ruas
colecionam caos
enquanto nas periférias
a miséria paraninfa
suicídios.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
ESCULTURA
no meu rosto adusto
essas sendas indesejáveis
( rugas & flacidez)
e na arquitetura do tempo
esculpem na minha pele,
a escultura da velhice.
domingo, 8 de novembro de 2009
QUASE HAICAI
as manhãs se enchem de pássaros
e esqueço (da vida)as perfidias.
sábado, 7 de novembro de 2009
ODE MINÍMA
revelam segredos
da tarde
que não resiste
ao assédio
do crêpusculo
( o tédio das ruas
assume seus ludíbrios)
e em pouco espaço
( réstia de tempo)
as cinzas das horas
cristalizam as sombras
da noite.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
EXERCICIO
escorrem pela memória
miragens e pesadêlos,
agarrado a velhos silêncios
minhas mãos em gestos
abstratos tecem
costuras de ocasos
e a palavra muda
prescreve o abandono
das pálpebras.
PAISAGEM DA MEMÓRIA
de criança-menino
viam sempre
as mesmas coisas,
casas meia-águas
circundando a praça
a mata ciliar
sobreando o regato
os carros de boi
rangendo suas dores
na árida e absurda
inclinação da ladeira
as mulheres beatas
acendendo velas
no pátio da igreja
e um bando de meninos
inconsequentes
atirando pedras
nas mangueiras
no interior da casa
o sal do tempo
conservava a fotografia
dos mortos.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
POEMA
entre o show da boite
e o último trem
e na anatomia
do relógio
o silêncio entala
as horas
na garganta
do tempo.
FLORAL
margaridas invadem
os campos silvestres
violetas desabrocham
nos jardins das cidades
perfumes de flores
entorpecem o ar
a primavera explode
em aromas e cores.
CICLOVIA
custa-me alcançar
o fim desta via
entre o teu amor
e o meu
há uma distância
em anos-luz.
sábado, 24 de outubro de 2009
POEMA A GAGARIN
e rasgou os limites
da angústia
e o cosmonauta
transvertido em Deus
ante o olhar
atônito da rua
beijou a boca
bêbada da lua.
Farias de Carvalho
REENCONTRO
o poeta Farias de Carvalho
estava sentado
em um dos velhos
bancos do Café do Pina
tinha no semblante
o mesmo ar de candura
nos olhos a serenidade
dos espiritos iluminados.
De repente o vejo levantar-se
e recitar Poema a Gagarin
sua voz era tão densa
e forte que acordei.
( o poeta Farias faleceu faz mais de dez anos e o Café do Pina, no centro de Manaus, os predadores urbanistas o fizeram sumir da geografia da cidade)
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
NYDIANAS
da mulher
na televisão
acende delírios
e os olhos do menino
arregalam desejos,
no sofá (na penumbra)
o sexo baila
agilmente
nas mãos
infantís.
NYDIANAS
o relógio quebra
a harmonia do descanso
e as horas oxidam
as engrenagens
do tempo.
Lá fora o sol
espalha escamas
de fogo
nos labirintos
da cidade.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
NYDIANAS
poemas no solo
dessa manhã
sem véspera
espalhar sementes
de silêncio
nos guetos urbanos
e esperar
que os homens
plantem em seus
áridos corações
a erva do amor
e da compaixão.
NYDIANAS
da ânsia e da angústia
o tédio tolhe
(pouco a pouco)
meus dias
preciso urgente
de salvo-conduto
para ir e vir
na fronteira
desse amor
louco.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
NYDIANAS
das sílabas
(soma de falanges)
consoantes e vogais
se tocam
se copulam
e constroem
o poema.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
NYDIANAS
inquietante
da sala
o pó das horas
escorre lento
pelas paredes
vetustas da casa
e embota
a fotografia
dos mortos.
NYDIANAS
meu olhar
nos meninos
pobres
de minha rua
são os magros
meninos
são os sujos
meninos
mas são tão
alegres esses
meninos mortos
a fome
os fêz catadores
de sobras
nas lixeiras
nunca foram
a escola
mas são
psicologos
a alma
da miséria
só eles
conhecem,
eu que também
sou pobre
ao lado desses
meninos
eu que ainda
tenhos lagrimas
nos olhos
sou ríco.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
ULOS
onde hectares de sonhos frustrados
( sementes nunca semeadas)
permanecem no silêncio sazonado
do santuário inconsútil da memória.
É inútil revolver o passado
e mastigo agruras e solidão
percorrendo trilhas ínvias
dessa cidade morna desvirginada
pelo egoísmo e ambição
dos que fazem do mundo
arena de embates infames.
Refugio-me no poema
mas o poema é um rio
desaguando incasto
no oceano do cotidiano
imprevisível e amargo.
Aposso-me do tédio das ruas
na liturgia cruel dos dias,
misturo-me ao caos urbano
pejado de delirios e insônias
( soma dos meus pecados)
e suporto a vida olhando
os olhos serenos e castos
da mulher amada na fotografia
colada á parede deste quarto
abrasivo e silencioso
e consigo sobreviver
em meio de tantos mortos.
( após ler o poeta beatnick Allen Ginsberg)
terça-feira, 29 de setembro de 2009
INVENÇÃO PARA ANIBAL BEÇA NO AZUL
a noite recolheu em seu casulo de mistérios
seus habitantes. Surgindo do ventre da floresta
um fauno amazônico desgarrado de seu labirinto
entoa em sua inúbia a ária dos ausentes.
As palavras nortunas, em forma de versos,
estilhaçam-se no espelho da madrugada luzidia
e o poeta transvertido em astronauta do sonho
em sua nave de brumas ( ante o olhar plangente da rua)
orbita as galáxias candentes do imponderável
em busca do silêncio abstrato e eterno.
sábado, 26 de setembro de 2009
tom jobim
chapéu de panamá
charuto cubano
óculos sobre a mesa
partitura musical
letra de Vinicius
há muito coisa de Tom
em tudo isso.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
EUGENIA PARTIU AO ENCONTRO DO AMADO
(na foto Eugenia e Anibal)
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
DE POLÍTICOS E DE FRUTOS
domingo, 20 de setembro de 2009
POEMA QUASE ADEUS PARA UM RIACHO
havia um riacho de águas
claras e piscosas
que serpenteava
pelo ventre da cidade
e chegava impávido ao rio.
Dele o peixe sadio
nos almôços de sábado
nele o banho suave
nas manhãs dominicais.
Um dia chegaram os homens
com seus apetrechos
de fúria e ganância,
( agentes da destruição)
toldaram as águas
sufocaram cardumes
apodreceram suas margens.
E o riacho de minha infância
hoje está assoreado e morto
mas ainda corre
límpido e soberano
nos labirintos de minha memória.
( poema dedicado a brilhante poeta Nydia Bonetti que teve um rio em sua infância)
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
POEMA SURREALISTA
deixa entrar na sala
as nuvens de inverno
o ar gelado da manhã
( sem pouso)
congela a fotografia
da menina-moça
na parede gasta
de sal e vida.
Na cadeira de embalo
um velho de picinez
( curvados pelos anos)
traduz versículos
do apocalipse.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
OS CORVOS DE PARIS
terça-feira, 25 de agosto de 2009
O ENCANTAMENTO DO POETA
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
MÍNIMO NOTURNO
meus olhos são dois tições ardentes
( lampiões incandescentes)
rompendo o himen da madrugada
em busca da manhã plena
de pássaros, cantos e vidas...
Montmartre, Paris,Fr, julho de 2009.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
INSTÂNTANEO DE VIAGEM
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
CIRCULO VICIOSO
a palavra liberta cardumes de idéias
as idéias arquitetam o poema
o poema constroi sonhos
o sonho liberta a esperança
e a esperança alimenta a vida.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
MAR E TARDE
olhando o mar
contemplando o mistério
de suas ondas
ouvindo o silêncio
dos seus búzios
com ansiedade de naufrago.
Mar e tarde comunhão
poética forjada por Deus
formas absolutas de beleza
que encantam a vida.
As vezes passo horas da tarde
olhando o mar
confessando desencanto
dor e palpitação
em silêncio, sem alarde.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
MINÍMA ENDECHA PARA MICHAEL
as pernas firmes traduziam
a musicalidade enebriante
aos gestos acrobáticos.
Um dia a mente parou
as pernas enrijeceram
e os gestos simplesmente
morreram.
MINÍMA ERÓTICA
Quando demoras a chegar
a solidão se veste de saudade
e a espera vem me inquietar;
quando não te penetro, amiga,
morro de ansiedade.
terça-feira, 23 de junho de 2009
MADRIGAL
em frente a igreja do Rosário,
estavas vestida de sol
e os teus olhos eram duas chamas
amornavam a epiderme da tarde.
Hoje, Douga, te vi na orla do rio
(em teu passeio noturno)
estavas deliberadamente linda
trazias nos cabelos uma rosa amarela
e dos teus olhos saiam duas luas
que iluminavam o território
da noite.
sábado, 20 de junho de 2009
RELEMBRANDO OS GÊNIOS
segunda-feira, 15 de junho de 2009
ELEGIA QUASE
compulsoriamente para habitar
os vales verdes sem fim
onde a primavera nunca vai embora
e o sol nunca apaga seu lume,
não vestirei a túnica inconsútil
dos mortos mesmo sendo de linho
não vou querer incêndios de velas
nem os triviais epitáfios
tatuado sobre a lápide
inconsequente e fria.
Desejarei apenas que alguem
( parente ou amigo)
pendure no meu túmulo
um poema de Farias de Carvalho
ou de Nydia Bonetti.
(O poeta Farias de Carvalho foi e continua sendo o meu guru. Poeta imenso que tive o prazer trabalhar com ele na redação do saudoso jornal "A Noticia". Aprendi muito como este mestre das letras amazônicas. Nydia Bonetti é a poeta paulistana que extrai das coisas simples da vida belezas poéticas, verdadeira arquiteta de sonhos, garimpeira de luas e luares. Dois poetas, duas admirações. Este poema foi feito em cima do poema Epitáfio em que o poeta Farias de Carvalho, diz que quando morresse queria apenas que a noite pendurasse em seu túmulo uma estrela.)
quarta-feira, 10 de junho de 2009
TENTATIVA DE POEMA PARA ERNESTO PENAFORT
recuperava velhos sonhos
onde o tempo e memória
se fundiam e tuas mãos
calosas de auroras
fabricavam poemas
azuis pejados de esperanças.
Lendo os teus versos
revisito a infância
desço os degraus
da adolescência
mergulho nas aguas
azuis e mansas dos regatos
esquecidos e me invento alado
e tal um pássaro onírico
pouso suave nos andaimes
de cristal dos ocasos mortos
das tardes outonais
da Manaus esquecida.
Um dia, poeta amigo
quando o silêncio
acorrentar minha voz
e quandos meus olhos
deixarem de se enebriar
com o nascer das manhãs
e com a policromia
do por-do-sol,
nos encontraremos
( silentes)
no bojo azul de alguma lua
amanhecida.
( Ernesto Penafort foi um dos maiores poetas amazonense da geração madrugada. Faleceu no vigor da idade e de sua produção literária. Era conhecido como o poeta do Azul.) Os seus livros mais conhecidos são: "Azul Geral" e "Do Verbo Azul".Boêmio, era uma espécie de Paulo Leminsky da Amazônia).
domingo, 7 de junho de 2009
CANTIGA DE MAR
tolhe o ímpeto das marés
e o mar em sua briga
acirrada com a praia
vomita antigos naufrágios.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
AS PALAVRAS
quando ditas
com acidez
queimam,
as palavras
quando vergadas
ao peso
das incoerências
ferem,
as palavras
quando protestam
com ardor
são podadas
são caladas
pelo ditador,
mas as palavras
reagem, resistem
ao poder dos déspotas
dos tiranos
ainda que tênues
ainda que mortas.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
RELEMBRANDO OS GÊNIOS
domingo, 31 de maio de 2009
CAPITALÍSMO SELVAGEM
( que se banqueteiam com o suor
e sangue dos trabalhadores) tudo
as fímbrias do céu
e o lucro desmedido,
aos pobres, aos miseráveis
da sorte a sarjeta
o gueto poluído,
o sono nas calçadas frias
das cidades no inverno,
a esses párias da sorte
ás raias do inferno.
Defendendo a ecologia
os rícos temem
que a flatulência
dos mendigos
possa esburacar
a camada de ozônio.
sábado, 30 de maio de 2009
CÍRIOS ARDENTES
a voz embargada na prece
contrita. Os olhos rubros
inflados pelo sal das lagrímas
crianças correndo pela sala
inventando artes lúdicas
de vida.
Os olhos da morte espiando,
um coral de beatas entoa
a reza comovente
e minha mãe inerte
entre os círios ardentes.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
RELEMBRANDO OS GÊNIOS
quarta-feira, 27 de maio de 2009
POEMA EM TOM DE SAUDADE PARA O ÍBIS BAR
como uma avalanche
soterrando meu estado de animo:
-O Íbis Bar fechou ás portas!
Súbito uma angústia numeral
percorreu as latitudes
do meu corpo gordo e amargo,
lá se foram anos e anos
de embriaguês poética
de discursos etílico-filosóficos
de delírios existencialistas
e de debates surrealistas
infindáveis.
O Íbis usinava prosa, verso e vidas,
foi em seu recinto nostálgico
entre a fumaça espiralada
dos cigarros ardentes
e o cheiro acre da cerveja
amanhecida,
que assisti os primeiros afagos
do romance entre o poeta
Roberval Vieira e a bela Dóris
( a morena dos olhos de ciúme),
em cima de suas mesas encardidas
ouvi alguem recitar um poema
de Jorge Tufic que dizia ser
"o bar o lar da vida".
O Íbis Bar fechou ás portas
mas ficará plasmado no ar
de sua memória
minhas palpitações
meus desencantos
meus amores tempestivos
e as madrugadas insones
( pedaços de mim)
como lembrança de um tempo
que vivi.
O Íbis neste instante é saudade,
e eu que já sou orfão de pai e mãe
agora sou, também, orfão de bar.
( Eu estava na Praia do Futuro em Fortaleza, quando o poeta Roberval Vieira me telefonou dando-me a notícia do Íbis, o bar que frequentavamos em nossa juventude e até recentemente. Depois de 40 anos de atividade boemia o Íbis não suportou a ambição e as investidas imobiliárias).
domingo, 24 de maio de 2009
POEMA QUASE MANIFESTO
que não sou eu
que devassa os campos
os trigais silvestres
e os arvoredos,
que não sou eu
que anuvia os céus
com as raspas
e fuligens de aço
envenenando pulmões
nas axilas
das cidades sofridas,
que não sou eu
que joga bosta nos rios
e olea onda dos mares
sufocando peixes
e esfomeando vidas,
não sou eu que constroi
essas desgraças tamanhas,
são eles os agentes iníquos
do capitalísmo irresponsável
que eivados de ganância
e ambição desmedida
provocam as dores do mundo.
( na Amazônia os grandes pecuaristas colocam a mata no chão, toldam os rios e os pequenos agricultores são responsabilizados por essas ações. O poeta Roberval Vieira perguntou-me se eu fosse um pequeno agricultor o que eu diria sobre essa situação e, então, fiz esse desabafo.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
ENCONTRO DE ESCRITORES BEATS
quinta-feira, 21 de maio de 2009
AJURICABA
guerreiro éreo
fé e contrição
não teme a morte
nem a traição
amor á terra
invade o peito
luta renhida
amor e liberdade
amor a vida
guerreiro de voz
preferiu a morte
do que servi o algoz.
( Ajuricaba é o indio heroi do Amazonas, simboliza o amor pela terra e pela liberdade. Aprendemos com seu exemplo a amar a nossa terra e a Amazônia brasileira. Preso pelos portugueses, o guerreiro que lutava pela libertação de seu povo, preferiu atirasse nas
aguas do Rio Negro do que ficar cativo. Ajuricaba representa a força e o amor dos amazonenses pela terra, pela flora e fauna exuberante da Amazonia.)
quarta-feira, 20 de maio de 2009
AS MULHERES DO ZUMBI II
são fortes e corajosas
e quando fazem amor
abrem as pernas ternamente
e trepam mesmo em chão
de barro e na frieza
dos barracos soturnos
e não tem menos orgasmos
do que as granfinas
da Ponta Negra
que fazem amor
com a conivência
de fronhas e lençóis
importados.
As mulheres do Zumbi II
são doces e belas.
( este poema foi construido quando o bairro do Zumbí II era apenas uma invasão desordenada, barracos no chão de barro formavam um aglomerado. Hoje é um bairro comercial de grande desenvolvimento. E este poema foi dedicado ao poeta cearense Costa Matos)
terça-feira, 19 de maio de 2009
RELEMBRANDO OS GÊNIOS
segunda-feira, 18 de maio de 2009
TOCATA VESPERAL PARA OS OLHOS DE FOLHA MINHA
fluindo sobre o dorso da tarde,
a palavra nua e crua arquiteta
fugas no areado do mar
a emoção coletando ventos
para impulsionar ondas
deste mar sem véspera
e suavizar a praia de musgos
e crustáceos.
Cintia Thomé o verso maleável
pari uma lua vermelha
numa noite em que o tempo
( verdugo de todos nós)
faz oferendas aos olhos
de folha minha.
Cintia Thomé o sonho do filho
abortado numa esquina da vida
evoca prece e resignação:
Rudy com asas de aurora
voa entre as fímbrias das nuvens
em busca de outros infinitos.
Cintia Thomé o poema completo
se esparrama sobre o ar das manhãs
de pássaros e de cantos,
Cintia Thomé poema e vida...
( Depois de reler o livro" Olhos de Folha Minha", da grande poeta contemporanêa Cintia Thomé que o Estado de São Paulo pariu para o Brasil e para o mundo.)
A VIAGEM
evocarei o espírito de Kerouac
para me acompanhar
caminharei sem rumo
apagando o brilho do sol
acendendo o lume da lua,
tropeçarei em cardos
pisarei em urzes
comerei o pão que a vida
amassou
até romper os grilhões
da madrugada
e desperte à amada
que me encontrará
na caminhada
(linda e sorridente)
cavalgando uma estrela
cadente.
domingo, 17 de maio de 2009
POETAS DA AMAZÔNIA
sábado, 16 de maio de 2009
INSTANTE
embaça a chuva
e a tarde desaba
ladeira abaixo
enquanto andorinhas
no céu do dia
( em declínio)
em voos pandos
tatuam a pele do vento,
apenas o olhar da rua
persegue a paisagem
em decomposição.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
ESTADO DE CIO
agressivamente linda
com essa tez rosada
e olhar de mansidão
de lago após a chuva,
te quero assim
simplesmente
glutea e lasciva
cheirando a anélito
de rosa do campo
te quero assim
completamente
meiga e ardente
(eivada de candura
e desafios)
que possa comunga
todos os dias
do meu estado de cio.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
PASSAGEM
dos teus olhos carregados de luz
que passaram por mim
iluminando meu caminho.
E de repente
implodiram ás paixões
os gestos se perderam
no silêncio das mãos
e no mutismo das horas,
as palavras se calaram
no útero da garganta,
e foi só depois de tua passagem
pelas trilhas geométricas
dos meus olhos
é que vi que o mundo
já não era o mesmo.
( Este poema publiquei no site Overmundo e foi dedicando a poeta paulista, Nydia Bonetti, explosão poética que Piracaia pariu para as letras do país, depois de lê Olhos Raros de sua autoria).
terça-feira, 12 de maio de 2009
OCASO SOBRE CAMPINAS
raios languidos e tépidos
amornam as vértebras da tarde
que caminha para o suicídio
das horas.
A cidade abre o seu ventre
para receber o bafejo
da noite que avança
( com sua vestimenta de mêdo)
sobre a Vila Industrial
e promete mistérios.
Na Avenida Prestes Maia
edifícios sofridos de poluição
guardam no limo
de seus antigos calendários
vestígios de um tempo
que nunca vivi.
No Terminal Central
o caos se instala:
vidas vão
vida vem
vidas vão e vem
cada uma levando
sua cruz
e atravessam a pátina
do crepúsculo.
Lá para os lados de Viracopos
( ninho de aviões)
um pássaro solitário
( com asas de nevoa)
desce os degraus do vento
e corta o ar da tarde
relembrando antigos
ocasos esquecidos.
Enfim a tarde capitula
definitivo o sol desce
e essa saudade de Campinas
me anoitece.
( Este poema publiquei no site Overmundo e foi dedicado a grande poeta paulistana Cintia Thome).
POSSIVEL POEMA Á AMADA
da noite permissiva
onde a sobriedade
de teu rosto
incita a viagem
e viajo pelas sendas
brancas e inconsúltis
do teu corpo,
me excito com a arquitetura
dos teus seios rosados
( maçãs sazonadas)
e busco a impunidade
dos meus atos sensuais
na realidade dos teus lábios.
No silêncio das horas
pesco cardumes de palavras
doces , amenas e ofereço
aos teus gestos maduros
de amar.
E tu, amada e amor,
dormindo ao meu lado
( Vênus adormecida)
tua nudez resplandecendo
na luz do abajur,
afoga minha respiração
e o cio surgindo dos labirintos
do meu corpo
celebra minha intenção
de ti amar com ardor
e sofreguidão.
sábado, 9 de maio de 2009
POETAS DA AMAZÔNIA
Jorge Tufic (foto) nasceu em Sena Madureira, no Estado do Acre, mas, sua vida intelectual foi desenvolvida em Manaus. Poeta dos mais exaltado pela midia literária do norte e nordeste, também do sul e sudeste. Escreveu mais de 50 livros, entre os quais se destacam, Chão Sem Mácula, Mitos da Criação, Varanda de Pássaro, este no início da carreira poética, Do Outro Lado do Rio, prosa , e outros e de grande relevância no cenário literário brasileiro. Reside na atualidade na cidade de Fortaleza-Ce, onde exerce uma plena atividade litéraria, tendo sido agraciado com o titulo de Cidadão Fortalezense, outorgado pela Câmara Municipal daquela cidade cearense. Jorge Tufic foi um dos fundadores do Clube da Madrugada, movimento cultural que transformou a literatura e artes no Amazonas e da Academia Pré-Andina de Letras, com sede em Tabatinga, cidade amazonense situada na fronteira oeste do Brasil.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
REQUIEM PARA AUGUSTO BOAL
Os gestos se perderam
no entrelace das mãos,
a voz alcançou a mudez
na coxia silenciosa:
-Boal está morto!
A morte fossilizou o corpo
e a palavra deixou de aguar
a gleba dos oprimidos
e o ator transvertido em Deus
ante o olhar atônito da platéia
se fez cinzas e rasgou
os limites da existência
em busca de novos amanhãs.
O palco está vazio
o país está vazio,
desceu o pano no último ato
do teatro da vida:
-Boal está morto!
domingo, 3 de maio de 2009
POETAS DA AMAZÔNIA
quinta-feira, 30 de abril de 2009
GOMOS DA MEMÓRIA
retidos nos desvãos da memória,
no alpendre da casa
gasta de sóis e chuvas,
um velho de cabeça branca
e olhar aquilino, meu avô,
contava história de fadas
sacis e duendes e a criançada
o ouvia absorta,
lá fora uma lua maiúscula
pintava de prata
o pomar de minha vó.
No quarto em silêncio
minha mãe orava a Deus
pela volta de meu pai
que estava em viagem,
num canto, na penumbra,
tia Ema e seu namorado
(entre excitação e ulos abafados)
lascivos celebravam Eros
expondo seus arroubos e pecados
em cima do velho tapete da sala.
sábado, 25 de abril de 2009
INVENÇÃO PARA UMA VIAGEM DE SONHOS
onde manhãs estivais
pastam silentes,
evoquei o silêncio do sonho
e os alicerces da memória
ultrapassei os umbrais do tempo
e me vi plantando esperanças
á beira do rio de minha infância
Caminhei pelas alamedas da vida
cataloguei palpitações e desencantos
e me coloquei no caos das ruas
das cidades masculinas
( cruéis e desumanas)
entupidas de homens sem rostos.
E nesse vadiar de sonhos
dividi os gomos das minhas angústias
com as madrugadas insones,
vi a rosa do povo romper o asfalto
e nascer impávida e bela
humanizando a rua,
vi pessoas apressadas
( carregando suas cruzes)
fugindo para Pasárgada,
ouvir um velho poeta dizer
que o amor é eterno
enquanto dura.
E meus passos alcançaram
o caule da aurora
e vi a estrela da manhã
apagar seu lume
quando o sol rompeu
a vidraça do quarto
e me despertou da aventura
onírica.
( para a poeta Doroni Hilgenberg que veio de muito longe e abraçou a Amazônia como sua segunda terra. Presto homenagem, também, aos poetas divinos, Thiago de Mello,Drumond, Manuel Bandeira e Vinicius de Moraes, faço alusão aos mestres nas entrelinhas do poema)
sexta-feira, 24 de abril de 2009
POEMAS MARGINAIS
O JÔGO
Aos quarenta e cinco minutos
da jogada amorosa
levantaste da cama
( cálida e ardilosa)
o meu gôzo parou
entre a ansiedade
e o clímax
ficamos no zero a zero.
2
CONDIÇÃO
Exige-se
que o amor
seja doce
enquanto dure
e efêmero
enquanto amargo.
3
URBANO
Os olhos, olhos da tarde
olham meus passos
na espereza das calçadas
onde caminho meu corpo
verical gordo e amargo.
Há uma avareza de sorrisos
nas ruas becos e avenidas
onde a mudez das estátuas
reprovam a merda
dos pombos,
enquanto cabeças diversas
caminhas inanes
em varias direções
( rotina dos dias),
na porta do Cinema Panamá
um cartaz anuncia filme de Tarzan
com Johnny Weissmuller,
amanhã vou ao cinema
para rever as coxas da Jane.
4
BALAS PERDIDAS
Três tiros
na noite
marmorea
irrompem
os degraus
do silêncio.
No cabide
na sala
da casa
a roupa
permanece
intacta.
Na rua
deserta
nenhum
lamento
prostado
na calçada
mas no jardim
uma flor
jaz
despetalada.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
MARINHA
quarta-feira, 22 de abril de 2009
AFRICA
segunda-feira, 20 de abril de 2009
POETAS DA AMAZÔNIA
MEMÓRIAS NA TARDE
da velha casa onde nascí
e traz o cheiro antigo de meu pai.
Miragens turvas do passado
retornam e tomam conta
de quartos corredores
salas e quintal,
sentado na velha cadeira de vime
assisto o suícidio do sol
que teima em beber o rio
no fim da tarde.
De súbito vultos do meu passado
fantasmas de mim mesmo
açulam a memória
num festim de saudades
e vejo minha mãe
( imagem doce e luzidia)
a pervagar meus sentidos,
memórias nada mais
que memórias
povoam estes instantes
de reflexão e nostalgia...
domingo, 19 de abril de 2009
sábado, 18 de abril de 2009
O NARIZ DE KARL MARX
Vi Karl Marx torcer o nariz
para a economia política
do Século XIX.
Então a revolução se fêz
deixando de lado
a concessão e o perdão.
Agora, passados anos,
vemos que o nariz de Marx
estava errado.
( este poema foi construido como experimento.É que os poetas Frederico Barbosa e Claudio Daniel chamam de Poesia de Invenção).
quinta-feira, 16 de abril de 2009
PESCARIA
água fria
na tarde de sol
cheiro de pinga
no ar do dia
peixe vivo
na ponta do anzol.
MEUS HERÓIS
(sem distinção de cor)
não morreram de overdose,
morreram de cirrose,
eu morro de amor.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
INAUGURAÇÃO DO DIA
no ar gélido da manhã
teus olhos refletindo
nas aguas mansas
cristalinas e frias
do regato corrente
inauguram o dia.
Nós dois na relva deitados
e teus dedos riscando
( navalhas ardentes)
a pele do meu corpo
explode em mim o cio
e eu mareante me afogando
no oceano dos teus
lábios rubros
em meio a um turbilhão
de gritos e arrepios.
terça-feira, 14 de abril de 2009
CONSIDERAÇÕES SOBRE A TARDE
no meu poema na tarde
em declínio
onde os automóveis
( monstro de ferro)
carbonizam pulmões
com seus escapamentos
infames.
Há um sol de fôgo
crestado a tarde
nessa hora Mozart
não afinaria seu piano
e nem Picasso pintaria
miúras de três olhos.
Nas esquinas mendigos
assistem a vida
escorrer lânguida
enfadonha.
De pé á porta
do Café do Pina
asisto o suícidio
das horas
e o tempo
paraece coagular
a cidade.
Entre as árvores
o jardim
onde demônios
alados
( guardiães da tarde)
buscam alcançar
a rosa
para esmagá-la
a rosa
tão simples
tão meiga
tão dúctil.
Que espécie de tarde
é essa?
Que inventa demônios
para solapar a rosa?
Decisivo o sol
se põe sobre
a cúpula do Teatro Amazonas
e eu plantado
nesta esquina
de tempo
tento em vão
evitar os estertores
da tarde
tecendo costuras
de sol.
( Café do Pina era o local que nas décadas de 60 e 70 em que os intelectuais de Manaus se reuniam todas as tardes para a conversa que entrava pela madrugada. Lá estavam os poetas Jorge Tufic, Elson Farias, Farias de Carvalho, Luiz Bacellar, Anibal Beça, este começando, os contistas Artur Engracio, Aluisio Sampaio, Luis Ruas e o pintor Moacir Andrade, recentemente soube que o Café do Pina foi demolido pela Prefeitura de Manaus. Próximo ao café, na Praça da Policia, o Clube da Madrugada foi fundado por esses mesmos intecletuais.)
REMINISCÊNCIAS
sentado na cadeira de embalo
apascentando a vida
sua voz descia os degraus
do silêncio
e falava de pescarias
lagos e rios,
ao lado, contrita, minha mãe
desfiava o tempo
tecendo o seu crochê
e eu menino ouvia as histórias
embevecido.
Estes instantes estão
quilometros de distância
nos meandros da memória.
GOL
O BÚFALO
mente enfileirado
no pasto
na tarde em descensão.
E em seus gestos
serenos e pesados
rumina a bosta
de sua solidão.
LEITURA
se misturam
ao caos das ruas,
e nos estertores da tarde
o grito de suas gargantas
provoca calafríos
na cidade.
POETAS DA AMAZÔNIA
CREPÚSCULAR
POEMA MATINAL ( a Ernesto Penafort)
azul
e a algaravia
dos pássaros
na copa
das árvores
reanimam
a vida.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
sexta-feira, 10 de abril de 2009
A MULHER NO ESPELHO
PROCLAMAÇÃO
construi a primavera
em seus dominios,
a aurora me deu a cor
para compor meu poema
traçei roteiros de vida
para os gerânios ressequidos
e lutando contra os dragões
estivais,
proclamei a independência
da rosa.
( publicado no meu livro " No Silêncio das Horas")
VARIAÇÕES DO MEDO
de amar
de dar
de sair
de gritar
de denunciar.
Medo de tudo
do mundo
de mentir
de sorrir
de chorar
de escolher
de votar.
Provérbio iugoslavo:
- Diga a verdade
e saia correndo.
AMIGO E DEFENSOR DA AMAZÔNIA
No último dia 6, deixou o Comando Militar da Amazônia, o General Augusto Heleno( foto), um brasileiro verdadeiramente patriota, amigo e defensor intransigente da região Amazônica. Acredito ainda neste país por constatar que ainda temos em nosso exaurido capital humano, homens como o Gal. Augusto Heleno. Com sua saida do CMA a Amazônia ficou um pouco mais vulnerável. Obrigado General Heleno, a Amazônia e os amazonidas lhe agradecem de coração.
RELEMBRANDO OS GÊNIOS
quinta-feira, 9 de abril de 2009
O TEMPO CARRASCO
a anatomia dos gestos
e coagula o instante
em véspera de ocaso.
O tempo aborta vidas
projetos e destinos
e grafita a pele dos dias
enquanto o relógio
na parede gasta do sal dos anos
esquarteja as horas.
ESPÓLIO
este labirinto escuro
úmido e sem pouso
( herança precária)
onde o grito dos inválidos
escorrem pelos degraus
do silêncio
e se mistura a merda e o lôdo
dessa erma paragem.
Deus será que morri
ou sou a borra do capitalismo
selvagem?
CONSIDERAÇÕES SOBRE TEUS OLHOS
confunde o zodiaco
e os signos se perdem
no horóscopo de cada dia,
o brilho dos teus olhos
cria fractais congelados
que embotam o luar,
a mansidão dos teus olhos
ao silêncio das horas
se atrela
a espera do claro
acontecer de vácuo.
Um dia, amiga, colherei
uma lua madura
na paisagem dos teus olhos
para enfeitar minha janela.
O CÃO
cheira a tarde e com suas patas de
tempo
pisa o lôdo e a merda dos burgueses
de Adrianópolis.
O cão e o homem
o cão humaniza o homem.
O cão com seu focinho de fogo
cheira a vulva da cadela no cio
antepasto para o banquete
lingual.
( Adrianópolis é o bairro da classe A de Manaus)
O VOTO
uma eleição
atrás da outra
para nos livrar
dos políticos
cínicos
carreiristas
arrivistas
consumistas
do erário
bajuladores
dos mandatários.
O voto é arma
desarma
engôdo
promessas
inverdades
finalmente
sinceramente
voto é liberdade.
PRIMEIRA CONFERÊNCIA DEPOIS DAS FÉRIAS
do rosto, pigarreou e começou:
- Senhores, o Brasil é forte e pujante
graças ao empenho e a honestidade
de sua classe política.
Parou. Baixou a cabeça.
Silêncio sepulcral.
De repente surpreendeu
soltou uma gargalhada
que a sala toda
estremeceu.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
POETAS DA AMAZÔNIA
terça-feira, 7 de abril de 2009
POEMA
e cobram de minhas mãos
suadas e calosas
o gesto pronto que nunca realizei,
o rosto ( máscara de tempo e memória)
espelha a idade que nunca tive
a vida passa lesta e fria
pousada na minha carcaça
velha e adusta
destruindo vértebras
demolindo músculos.
Na hora última e amarga
da velhice
sómente o meu coração
espera ( contrito)
o momento exato
do salto no vácuo.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
SOLO DE OUTONO
( para o poeta marajoara Benny Franklin, cuja cultura e a inteligência engrandece á Amazônia)
As folhas caídas no chão adusto da praça
se transformam em pó, residuos outonais,
soprado pelos ventos que agitam
canteiros de gerânios e suavizam
os degraus do dia.
Um céu debruado de nuvens sépias
tenta ofuscar a luz do sol
no instante em construção.
Uma entonação de ária, solo imáginário,
percorre becos, ruas e avenidas
embevecendo ás vertebras da cidade
enquanto uma chuva fina intermitente
molha os cílios da tarde
e desbota a cor do meu silêncio.
domingo, 5 de abril de 2009
O BERRO DO MINOTAURO
sexta-feira, 3 de abril de 2009
RELEMBRANDO OS GÊNIOS
Vinicius de Moraes foi dramaturgo, diplomata, poeta e compositor de expressão nacional e internacional. Faleceu no Rio de Janeiro em 1980. Seu primeiro livro," O caminho para a Distância," juntamente com o segundo," Forma e Exegese" fazem parte hoje de inúmeras antologias dedicadas ao poeta.
FAVELAS
Favelas
ilhas suspensas
no ar da vida
labirinto de angústias
e mêdo
onde centauros
infames
abortam vidas
crescidas.
Favelas
ilhas erguidas
no ar das cidades
a desenhar mapas
de desespêro e miséria,
favelas
ilhas-cretas
brasileiras
onde a dor
inverga o riso
e o pranto desafina
o canto.
Favelas
ruelas a menstruar
vícios e violência.
Favelas
ilhas- cretas
no ar do tempo
e em cada barraco
há minotauros
famintos.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
POEMA DE AUSÊNCIA E TÉDIO
deste mar sem tempo e memória
por onde este barco de velas rôtas
e sem rota
veleja fatigado de procelas.
De tédio e angústia
é feita esta tua ausência,
teu porto está longe
e não há retorno estabelecido
para esta viagem
mas todas as noites, amiga,
surges em sonhos no convés
deste barco saturado de salsugem
e todas ás noites, amiga,
galopas meus sonhos eróticos.
CANTIGA DE ALÉM DO SER
é suave e puro
como água que bebo
ás vezes ardentes
como o sol que queima
minha pele.
As notas do meu canto
foram extraídas
da serenidade
da antemanhã
e do viço da primavera.
O canto que canto
é lesto e livre
como võo de pássaro,
fí-lo simples e emotivo
como a rosa que desabrocha
no dorso virgem da manhã.
GAIVOTAS
SOB O SOL DO ROÇADO
Todas as tardes meu pai me levava
ao roçado. O sol era abrasador
no mês de agosto gravetos e a terra
crepitavam sob o sol do roçado.
Meu pai plantava mandioca,batata
e vagens minha mãe e eu
colhíamos frutas,
espigas de milho morriam de viço
sob a quentura do sol do roçado.
Homens de escuros rostos e mãos rudes
(suarentos e apressados) semeavam
sob a quentura do sol do roçado.
Nestas tardes as horas eram lentas
e meus olhos se saturavam muito
sob a quentura do sol do roçado.
( roçado na Amazônia é plantação de subsistência).
SOLIDÃO - A POESIA DE JORGE MORAES
companheira tão fria
solidão
companheira tão sem amor
para dar.
A solidão é sempre
como um túnel
escuro e profundo
que por mais luz
que haja
há sempre caminhos a seguir
e bifurcações existentes
e caimos sempre no braço longo
e encostamos a cabeça
e nos deixamos cair sempre
no corpo frio e sem carinho
da inseparável companheira
solidão.
( Jorge Moraes se inicia pelos caminhos da poesia. Mora em Porto Alegre,RS. Publicaremos outros trabalhos de Jorge neste blog).
quarta-feira, 1 de abril de 2009
DOIS POEMAS A AMADA
O verso, mulher,
penetrará na tua alcova
e despertará o sonho lúbrico
da espera.
O caminho conduzirá
a aventura
a noite recolherá
o pranto meu
e então, juntos,
buscaremos o amor.
II
Os pássaros de bicos de sol
bicam a tarde onde o encanto
dorme na alcova das flores.
Teus dedos também
ferem a paisagem
desta tarde em declinio
onde se espera
a qualquer instante
o nascer de uma rosa.
Tudo passará, amiga,
mas essa tarde
e esses pássaros
hão de ficar
perpetuando tua
lembrança.
FUGA VESPERAL EM FIM DE TARDE
alcança o alpendre
da velha casa,
pássaros em fuga
traçam rotas
de regresso
no pálido acontecer
de vácuo.
E meu avô descansando
(numa cadeira de vime)
a fraqueza dos seus ossos
liberta de seu ventre adiposo
os gases de sua velhice.
NA FAZENDA
RELEMBRANDO OS GÊNIOS
João Cabral de Melo Neto ( foto), juntamente com Drumond e Bandeira formam a tríade de poetas brasileiros do modernismos e do pós-modernismo. Cabral produziu poemas de todas as formas e sentidos mas, nos poemas de cunho eminentemente sociais grajeou comentários os mais entusiásticos da crítica literária." Morte e Vida Severina" é o exemplo do que dizemos. Escreveu ainda "Pedra do Sono", "Os Três Mal-Amados", "O Engenheiro", "Psicologia da Composição", "O cão sem Plumas" e "Dois Parlamentos". Escreveu muita prosa também. Pernambucano e diplomata faleceu no Rio de Janeiro em 1999. João Cabral de Melo Neto foi um gênio da poesia brasileira e universal.
terça-feira, 31 de março de 2009
NOTURNO QUASE CANÇÃO
na esquina da noite
tentando decifrar os enigmas
que a vida me ofertou.
A cidade me assombra
com seus mistérios de centauros
centauros pretos
centauros brancos
que comeram á memória
e ruminaram a tragédia.
Eis-me aqui
tentando traçar roteiros
que nunca seguirei,
venho de sonhos frustrados
e caminhos gastos
aprisionei o átomo
e o lançarei contra o mundo.
Nesta esquina um dia
tive amigos,
poetas boêmios
seresteiros malditos
que cantaram comigo a canção
de cristal de um tempo
que nunca habitei.
Hoje nesta esquina
estou só
apenas esses bancos
na calçada
esperam meus mortos
que hão de chegar
para sentir comigo
esses residuos de dores
e de saudades.
INVENÇÃO PARA TUA VOLTA
pelas arestas estafantes
do tempo,
chegaste montando
um cometa
e nas mãos trouxeste
uma estrela sem brilho.
Teu cometa pousou
suavemente
nesta praia de cinzas
densa de sonhos de crustáceos
e gemidos de vagas
chegaste e meu sonho maduro
de espera se realizou
já não preciso mais dele
estais aqui.
Agora amiga e amor
arranca a cauda do cometa
e acede o lume da estrela
e deixa que ela reencontre
o caminho da volta
ajeito o cometa
e deixa-o seguir
não precisarás mais dele
estais nos meus braços
não te deixarei partir.
ERÓTICA
nave imaginária
romper os limites
da angústia
e transvertido
em astronauta
do sonho
circundar a lua
encalhada
nos teus lábios,
orbitar o universo
dos teus olhos
voejar as galáxias
do teu corpo
morno e moreno
e me perder
no quasar
do teu sexo.
POETA E DIVULGADOR
Este é o poeta Soares Feitosa, um dos maiores do nordeste. Soares é cearense e tem uma produção literária bastante volumosa. E é também divulgador da poesia luso-brasileira, através da edição do conhecido Jornal de Poesia, onde estão contidos em suas páginas mais de 3.000 poetas de todos os estados brasileiros e do exterior. Um homem voltado para a literatura e para ás artes da nação brasileira. Soares reside em Fortaleza. A literatura, em particular a poesia brasileira ,lhe deve muito.
CORRIDA DE TOUROS
Os olhos do miúra de três olhos
se abate sobre a arena da tarde
e os olhos cúbicos da mulher
na platéia desfaçam o mêdo
do embate,
homem e touro se miram
(0lhares de fôgo e indecisão)
de repente um grito de olé
ressoa no instante decisivo
prenuncia que a morte chegou
e o toureiro vestido de sol
espada na mão (esguio e altivo)
celebra a multidão inquieta
e ávida de sangue.
( poesia dedicada a Pablo Picasso, que gostava de touradas , pintava touros de três olhos e mulheres cúbicas),
APARIÇÃO
lindas de seus eretos
e ancas fornidas,
por duas vezes
fomos barcos
buscando rotas
estranhas no ventre
absconso das noites
simétricas.
Um dia fui macho
ávido de ti
e tu foste
égua bípede
de encantos.
POEMA
e esta antes de morrer
pariu a rosa.
Rosa cor de rosa
pétalas urdidas
de sonhos e auroras,
atirem pedras nos cães
ou nos homens sem Deus
mas por favor,
não maculem a rosa.
segunda-feira, 30 de março de 2009
O POETA
EROTICA
Entre as tuas tenras coxas a erva da sedução narcotiza meus gestos abala meus sentidos e minhas mãos se perdem no labirinto terno e obscuro ...
-
Germinando no silêncio do jardim um crisântemo espera o nascer do sol para abrir suas rutilas pétalas no ar pleno da manhã que vai raiar enq...
-
Saio do meu casulo de silêncio para prantear o poeta Belchior que nesta manhã, foi levado pelas Walquirias e cavalgou com ela...
-
. Uma lua madura aproveita a insônia das horas para habitar os círculos dos teus olhos e a noite desce com a lua e vem iluminar as esca...