Às vezes me
sinto caminhando por um campo de margaridas, tecendo amor e ternura, declamando
poemas aos ouvidos da mulher amada. Outras vezes me invento cavaleiro andante,
uma espécie contemporânea, de Don Quixote, mas invés de duelar com moinhos de
ventos, persigo apenas auroras quotidianas, tentado roubar-lhes a policromia.
Em outras ocasiões ajo quixotescamente e brando minha espada de nevoa, subo os
degraus do dia para desafiar os dragões alados, guardiães do ocaso, tentando
libertar o sol. Eles todos os dias sequestram o sol e só o devolve pela manhã. Existe
dias que me sinto um jogral, menestrel, um aedo caminhando e cantando pelas vielas da
Idade Media até encontrar o balcão da mulher amada. E assim sigo pela estrada
da vida carregando minhas palpitações, meus desenganos e minhas circunstâncias. Até o dia do salto no
abismo das incertezas.
Vamos, amiga, caminhar por essas sendas desconhecidas. Não temas a escuridão, trago comigo uma lua de bolso para guiar nossos passos no chão e a noite, amiga, envelheceu sobre os seus próprios desastres e os sátiros guardiães de suas sombras também envelheceram sobre os escombros do tempo. No fim da caminhada, amiga, o sol renascerá sobre um campo de margaridas e beberemos um pouco de orvalho na concha policrômica da manhã. Vamos, amiga, continuar a caminhada e que no fim da jornada, do outro lado do tempo, um novo horizonte nos espera.