sábado, 31 de janeiro de 2015

TEOREMA

A geometria do teu rosto
( belo e sereno )
é proporcional
ao brilho dos teus olhos
êpa, o meu poema
virou teorema?

CARDUMES

Na tarde ferida de sol
no rio sem plumas
há seminário de cardumes.

HAI-KAI

O brilho dos teus olhos
é minha herança
de luz.

O VIAJANTE DO SONHO

Viajo por ermas galáxias
coando pó de estrelas
com minhas mãos em concha
em universo de sonhos e fantasias.
Invento um barco de nevoa
e aporto em porto de oceano
sem nome,
e não consigo te distinguir
entre os nomes tatuados na areia
desta praia sem pouso
que as ondas vão apagar.
Saio do meu sonho e desço
os degraus da noite em busca
de brisas desgarradas
de um rebanho de ventos,
no alto uma lua cigana em seu realismo
de prata e luz tenta em vão iluminar
os penhascos do meu abismo.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

HAI-KAI

Queria que meu barco
aportasse nesta noite
no cais dos teus sonhos.

MITOLÓGICO

Nesta noite sem véspera
que invade  esses bosques
sequiosos de silêncios
a flauta de Pã acorda
os lacraus do orvalho.

POEMA


A noite colheu o poema
( que vivia na clandestinidade )
no vértice do tempo....
as palavras do poema
edulcoradas com sementes
de sol
renasceram nas plantas
dos jardins de verão
sua voz de sentimentos
ecoou nos tímpanos
dos ouvidos tenros
e quando o sol se despediu
na imensa lavoura da tarde
e a noite abriu suas válvulas
de sombras
o poema se escondeu
avido de exilio.

OLHOS ABERTOS

 Ontem a insônia cavalgou as pradarias noturnas dos meus olhos. Não consegui dormir. As horas de tão lerdas pareciam querer estancar a caminhada circunferencial do relógio. O sono se escondeu em algum lugar do apartamento e não consegui encontrá-lo. Subitamente uma angustia numeral invadiu-me na hora que fixei os olhos no teto branco. Foi a noite mais longa do primata.

DE SOL, SILÊNCIO E ABISMO

O sol em sua vertigem de fogo
liquidifica a tarde onde os minutos
assalariados das horas contam
as espigas do tempo
e os ventos anarquistas e ciganos...
vergastam as velhas casas
com o pó das ruas
enquanto antigos silêncios
me acorrentam implacáveis
entre a memória e o meu abismo.

SECA

Em tempos de seca
se quiseres molhar
os teus cabelos,
inventarei gotas de orvalho
com lagrimas dos meus olhos.

PERDIDO & ACHADO


Ontem me perdi nas arestas
estafantes do tempo
ruminando palpitações...
e desencantos
[em triste vagar],
E hoje me achei tecendo
fiapos de nuvens e sol
no verde inebriante
dos teus olhos de mar.

CONVERSA COM POETA

Um dia destes, em conversa com o jornalista Roberval Vieira, em tom de brincadeira, comentei com ele: - Poeta, quando formos transferidos para o outro lado da vida o que vamos fazer lá? E arrematei: - Só sabemos fazer poesias! E o poeta com aquela fleuma quase britânica, acariciou o cabo de sua indefectível bengala, esculpida por artesões portugueses de Aveiros e disse: - Quem sabe não ganharemos empregos de acendedores de estrelas

INAUGURAÇÃO

Quando a manhã renascer
das cinzas da noite passada
e os galos tenores
quebrarem o silêncio da madrugada
[ com seus cantos em lá maior ]...
acordarei os pássaros
e encomendarei uma sinfonia
para inaugurar o sol do teu dia.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

POEMA SURREALISTA ( A MULHER E O PÁSSARO)

A mulher olhou
para o alto
e viu o sol
abrir sulcos
luminosos
nas savanas
do céu
e de repente
vomitou
um pássaro.

PARA LETÍCIA MINHA NETA

Letícia,
com o fulgor
do teu olhar
derretesse
o meu silêncio.

CRONIQUETA



Hoje me lembrei, mais uma vez, de Farias de Carvalho, o poeta inspiradíssimo, o redator de sonhos e o orador ubertoso, que manejava a palavra com sutileza e afinidade, proporcionando textos inebriantes. Guardo nos desvãos da memória a figura daquele homem obeso andado vagarosamente pela a redação do saudoso jornal A Noticia e com sua voz sísmica, chamando o repórter Roberval Vieira. Não era um chamamento era um berro que tonitruava pelo jornal inteiro: Roberva!!!! Roberva!!! O poeta cuja  teor vocabular encantava a todos que o ouvia declamar poemas e discursar.Um dia ele me convidou para o lançamento de um livro do poeta Alcides Werk. E fui com ele. Na apresentação que fez sobre o livro do poeta Alcides, Farias de Carvalho conseguiu se superar com um discurso antológico.  Foi ele que escreveu o prefacio de um livro que nunca publiquei, cujo titulo ele também lhe dera: Cantigas de Alem do Ser.  A Noticia estava sob censura previa e Farias era um exímio Redator Chefe e com seu linguajar apurado, conseguia, nas entrelinhas, criticar a ditadura sem a percepção do censor federal que todas noites examinava as matérias a serem publicadas no dia seguinte.  Tenho muita saudade do jornalismo, da presença e cultura do poeta Farias de Carvalho, hoje habitante da Grande Luz. Deixou-nos dois livros,” Cartilha de Bem Viver com Lições de Bem Amar” e “Pássaro de Cinzas”, este ultimo um clássico da moderna poesia da amazônia .

O HOMEM


O homem quando perde a sensatez e atravessa os limites da ética, transformasse num ser humano ignóbil, sem perspectivas morais e passa viver no limbo da imoralidade absoluta.
 

AS DORES DE ÂNGELA



Desde os doze anos que Ângela, sofria com dores atrozes que habitavam toda sua estrutura corporal.  A medicina jamais explicou, diagnosticamente, a natureza de sua patologia. Cada médico indicava uma variedade de remédios que conseguiam apenas minimizar a intensidade das dores. Apesar de sua pouca idade, agora já com quinze anos de idade, Ângela, sabia que a medicina nunca poderia sarar suas dores. E por isso passava o tempo todo resignada. Não podia estudar ou realizar qualquer tarefa. As dores não deixavam.

Um dia sua mãe sentou-se á beira de sua cama e disse em tom choroso: - Ângela, minha filha, eu queria que Deus me desse uma provação. Que ele transportasse para mim todo este teu sofrimento, todas essas dores que sentes. Não queria que sofresse mais.

 Foi então que Ângela respondeu á mãe, sabiamente: - Mãe, não se desespere. Tudo vai ficar bem. É uma questão de tempo. A dor é uma poda. Ela está podando os resquícios de impurezas de minhas vidas passadas que ficaram incrustadas em minha alma.

Passaram meses. E numa manhã de luz, Ângela acordou sem dores e sentiu-se leve como uma pluma sendo levada por um rebanho de ventos.  Chamou sua mãe. E quando ela chegou apressada, Ângela disse-lhe: - Mãe, a dor me libertou. Estou livre. Eu não lhe disse que a dor é uma poda?

Lá fora o outono podava ás arvores.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

INVEJA

 

Na manhã plena de sol
ouvi um vento invejoso
tentando imitar o canto
de um pássaro
com um assobio. 

PESCARIA

Os peixes estão de férias
disse o menino para o homem
que segurava a vara e olhava
rio com ar de amuo
e sonhava em pescar um peixe
do tamanho de sua fome.

O MAR

O mar ouve sua voz
no som cônico
de suas conchas.

OCASO

Na linha imaginária
do horizonte
depois de perder
sua força radial
( no mar de Abrolhos)
o sol declina
no poente dos teus
olhos.

PRESO

Estou prisioneiro
do tempo
as horas encarceraram
o meu silêncio.

O SOL

Vi o sol sair
dos teus olhos
e ouvi tua boca
ruminar a manhã.

PEIXES


Olhando o rio
eu vi com certeza
peixes coando ovas
no fio da correnteza.

MIRAGENS

De minha janela
o silêncio e o tempo
criam cascatas de miragens
na cúpula geométrica
dos meu olhos.

HAI-KAI

Construí um castelo
para abrigar
o teu sorriso.

COMPARAÇÃO

Caminho sinuoso
é caminho torto
pássaro sem canto
é pássaro morto.

CRYSTAL ( NETA)

A cor dos teus olhos

(em tempo de estações)

poderia matizar a pele
grisalha do outono.

MINÍMA ODE

A manhã debulha
raios de sol
enquanto
a opera dos pássaros

( no ventre do bosque )

.humaniza os rastros do dia.

PRELUDIO CREPÚSCULAR

( para Judite e Juliana)
Eu queria que minhas mãos saturadas de tempo, pudessem tanger, com candura, a tessitura do por do sol, quando as tardes se despedirem dos labirintos do dia. Gostaria de roubar, sem culpa e sem crime, o cântico dos pássaros para inventar canções e assim ninar o sono da mulher amada. E por fim, queria acender, com gestos mágicos, as luzes das manhãs renascidas e caminhar pelas alamedas coruscantes da vida sem colecionar abismos.

VELEIROS


( Á Judite)

Dos teus olhos zarparam...
veleiros imaginários
que singraram os mares
dos meus sonhos
e aportaram no cais
intimo dos meus desejos.

QUASE PRELUDIO



 Ah, essa chuva caindo e molhando o ventre da tarde, espalha angustia pelos labirintos da cidade.Véspera de noite. Crepúsculo. Os anjos da nostalgia já chegaram, todos, com suas asas de sombras , tisnando calçadas e marquises, onde um sol molhado tenta reaver seu ardor. Nas ínvias esquinas um vento úmido e travesso, borda as fimbrias do tempo e um pássaro em voo de regresso pous...a suave na copa de Ipê, esperando a noite definitiva chegar para o descanso de suas asas. Na parede da casa do silencio um relógio, absolutamente tirano, marca o tempo das idades sem nenhum remorso. Enfim, a noite se apossa definitivamente dos latifúndios da tarde e ninguém convidou a lua para um banquete de luz.

EROTICA

Entre as tuas tenras coxas a erva da sedução narcotiza meus gestos abala meus sentidos e minhas mãos se perdem no labirinto terno e obscuro ...